segunda-feira, 14 de março de 2011

Alunos da Primeira Série do Ensino Médio - ERROS CLÁSSICOS DE INTERPRETAÇÃO

Alunos, leiam com atenção esse texto para minimizarem suas dificuldades com o texto. Bom estudo.

Como ler e interpretar textos

Como você lê? De maneira mecânica, passiva ou de maneira ativa, reflexiva e crítica? Você acumula apenas os dados e as informações ou você integra o lido ao vivido?
Há pessoas que leem muito, pilhas de livros são devoradas, como se isso fosse uma saída a qualquer problema psicológico, mas sua vida nada muda. Elas leem como o raio laser lê o disco, mecanicamente.
Quando muito, elas são verdadeiras enciclopédias volantes, sabem de cor uma série de coisas.
Outras pessoas leem de forma reflexiva, fazem a leitura como se estivessem comendo alguma coisa. Mascam, ruminam, não gostam, devolvem, brigam com o texto. Elas possuem uma postura crítica diante do que leem. Depois do texto lido e digerido, ele passa a fazer parte da vida das delas. Para ler é necessário ir e voltar, do texto a nós mesmos, até interiorizá-lo, até que ele, finalmente, faça parte de nós.
A gente lê para se informar, para ser uma pessoa culta, mas acima de tudo, deve-se ler para praticar a leitura, para que a pessoa continue alfabetizada, não perca a habilidade de manipular e entender as palavras.
Os japoneses, por exemplo, que possuem uma língua escrita ideográfica, bem mais difícil do que a nossa, leem sempre para não esquecer a escrita que aprenderam. Com a mesma população que tem o Brasil, o Japão edita 70 milhões de exemplares de jornais escritos, enquanto o Brasil não chega a 5 milhões. Como disse uma trabalhadora dos canaviais pernambucanos: “Quem não sabe ler, tem medo das novidades”. Ler é um processo, cuja condição primordial. é a própria prática da leitura.

Erros clássicos de entendimento de texto

Após a leitura do texto, leia as perguntas propostas. Você perceberá que algumas questões incidem sobre o conjunto do texto: estas podem ser respondidas diretamente. Mas há outras questões que incidem sobre trechos, sobre passagens específicas do texto: estas, para serem respondidas, exigem uma volta ao texto.
Quando a prova é de questões discursivas, expositivas, temos mais liberdade para encaminhar nossas repostas. Nesse caso, é preciso muita atenção quanto ao enunciado, para que você responda realmente o que está sendo pedido e não incorra nos erros clássicos de entendimento de texto, que são basicamente três: extrapolação, redução e contradição. Reconhecer estes erros, conhecer o processo lógico que ocorre em cada um deles, é de importância vital para superá-los, ou seja, para que nossas respostas sejam claras e coerentes, adequados aos textos.

Extrapolação
O erro de extrapolação, como o próprio nome indica, acontece quando saímos do contexto, quando acrescentamos ideias que não estão presentes no texto. Ao extrapolar, vamos além dos limites do texto, viajamos além de suas margens, fazemos outras associações, evocamos outros elementos, criamos a partir do que foi lido, deflagramos nossa imaginação e nossa memória, abandonando o texto que era o nosso objeto de interpretação.
A extrapolação é muitas vezes um exercício de criatividade inadequada - porque nos leva a perder o contexto que está em questão. Geralmente, o processo de extrapolação se realiza por associações evocativas, por relações analógicas: uma ideia lembra outra semelhante e viajamos para fora do texto.
Outras vezes, a extrapolação acontece pela preocupação de se descobrir pressupostos das ideias do texto, pontos de partida bem anteriores ao pensamento expresso, ou, ainda, pela preocupação de se tirar conclusões decorrentes das ideias do texto, mas já pertencentes a outros contextos, a outros campos de discussão.
Reconhecer os momentos de extrapolação - sejam analógicos ou lógicos - significa conquistar maior lucidez, maior capacidade de compreensão objetiva dos textos, do contexto que está em questão. Essa clareza é necessária e é criadora: significa, inclusive, uma liberdade maior de imaginação e de raciocínio, porque os voos para fora dos textos tornam-se conscientes, por opção, serão realizados por um projeto intencional, e não mais por incapacidade de reconhecer os limites de um texto colocado em questão, nem por incapacidade de distinguir as próprias ideias das ideias apresentadas por um texto lido.

Redução
Outro erro clássico em exercícios de entendimento de texto, erro oposto à extrapolação, é o que chamamos de redução ou particularização indevida. Neste caso, ao invés de sairmos do contexto, ao invés de acrescentarmos outros elementos, fazemos o inverso: abordamos apenas uma parte, um detalhe, um aspecto do texto, dissociando-o do contexto. A redução consiste em privilegiarmos um elemento (ou uma relação) que é verdadeiro, mas não é suficiente diante do conjunto, ou então que se torna falso porque passa ser descontextualizado. Prendemo-nos, assim, a um aspecto menos relevante do conjunto, perdendo de vista os elementos e as relações principais, ou antes, quebramos este conjunto, fracionando inadvertidamente esse aspecto, isolando-o do contexto. Reconhecer os processos de redução representa, também, um salto de qualidade em nossa capacidade de ler e entender textos, assim como em nossa capacidade de perceber e compreender conjuntos de qualquer tipo, reconhecendo seus elementos e suas relações.

Contradição
O último erro clássico nas interpretações de texto, o mais grave de todos, é o da contradição. Por algum motivo - uma leitura desatenta, a não percepção de algumas relações, a incompreensão de um raciocínio, o esquecimento de uma ideia, a perda de uma passagem no desenvolvimento do texto - chegamos a uma conclusão contrária ao texto. Como esse erro tende a ser mais facilmente reconhecido - por apresentar ideias opostas às expressas pelos textos - os testes de interpretação muitas vezes são organizados com uma espécie de armadilha: uma alternativa apresenta muitas palavras do texto, apresenta até expressões inteiras do texto, mas com um sentido contrário. Um leitor desatento ou/e ansioso provavelmente escolherá essa alternativa, por ser a mais “parecida” com o texto. Por ser a que apresenta mais literalmente, mas “ao pé da letra”, elementos presentes no texto.

Exercício/ exemplo

Vejamos alguns exemplos de erro - extrapolação, redução, contradição - a partir de textos em prosa e em poesia. Muitos destes exemplos são colhidos em experiências de aula de interpretação. Ao aprender a reconhecer os erros, você vai desenvolvendo uma clareza maior para sua prática de interpretar mais lucidamente os textos. Perceba, também, como o resumo e a paráfrase são utilizados durante o processo interpretativo.
Leia atentamente o texto que se segue. Faça a primeira leitura, a de entrar em contato, e, depois, faça a segunda leitura, captando as ideias centrais. Procure fazer um pequeno resumo do texto. Em seguida, verifique se você cometeu algum erro de extrapolação, redução ou contradição.


A tradição e o moderno

A tradição é importante. É democrática quando desempenha a sua função natural de prover a nova geração com conhecimentos das boas e más experiências do passado, isto é, a sua função de capacitá-la a aprender às custas dos erros passados a fim de os não repetir. A tradição torna-se a ruína da democracia quando nega à geração mais nova a possibilidade de escolha; quando tenta ditar o que deve ser encarado como “bom” e como “mau” sob novas condições de vida. Os tradicionalistas fácil e prontamente se esquecem de que perderam a capacidade de decidir o que não é tradição. Por exemplo, o aperfeiçoamento do microscópio não foi conseguido pela destruição do primeiro modelo: o aperfeiçoamento foi realizado com a preservação e o desenvolvimento do modelo primitivo a par com um estágio mais avançado do conhecimento humano. Um microscópio do tempo de Pasteur não capacita o pesquisador moderno a estudar uma virose. Suponha agora que o microscópio de Pasteur tivesse o poder e o descaramento de vetar o microscópio eletrônico.
Os jovens não sentiriam nenhuma hostilidade para com a tradição, não teriam na verdade senão respeito por ela se, sem se arriscar, pudessem dizer: Isto nós o tomaremos de vocês porque é convincente, é justo, diz respeito também à nossa época e passível de desenvolvimento. Aquilo, entretanto, não podemos aceitar. Era útil e verdadeiro para o seu tempo - seria inútil para nós. E esses jovens deveriam preparar-se para ouvir dos seus filhos as mesmas palavras.

(Wilhelm Reich - A revolução sexual)

Observe alguns exemplos de extrapolação, redução e contradição, muito frequente na interpretação de textos.

Extrapolação: O texto fala sobre o papel dos cientistas na sociedade e sobre a importância da ciência para a democracia, que é o melhor sistema de governo.

Redução: O texto fala sobre a importância do microscópio, importante instrumento de investigação científica.

Contradição: O texto afirma que a tradição sempre é um empecilho para o desenvolvimento do conhecimento humano.

Como você vê, no primeiro caso, a afirmativa sai dos limites do texto, volta-se para outro assunto (papel dos cientistas na sociedade, ciência e democracia). No segundo caso, reduz-se o texto à questão do microscópio, que é apenas um exemplo usado. No terceiro caso, conclui-se o oposto do que o texto afirma: a tradição seria sempre um obstáculo.

A compreensão correta do texto apresentaria os seguintes elementos e relações:

A importância da tradição.

A tradição, quando é democrática fornece elementos sobre as experiências do passado.

A tradição, quando é antidemocrática e tenta ditar o que é bom ou mau, em diferentes condições de vida.

O exemplo do microscópio, nos dois casos.

Ao analisar um texto dissertativo, identifique, inicialmente, o argumento principal, aquele que fundamenta a opinião exposta. Em seguida, identifique as consequências decorrentes do que está sendo afirmado e, por fim, a conclusão, que é a reafirmação do argumento principal.